Mudanças e transições com crianças e adolescentes

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Como considerar as transições das crianças e adolescentes que vivem entre culturas

“As crianças vão se adaptar, não se preocupe, logo elas vão ter amigos e vão estar falando a língua local, você vai ver.”

Será? Por que nós pensamos que crianças se adaptam com facilidade? Por que pensamos que são resilientes? De fato, esse é um dos grandes mitos que existem em relação aos pequenos. Faça uma pesquisa no Google sobre como ajudar seu filho a se adaptar a escola nova e você vai achar um monte de artigos e blogs! Porque reconhecemos que é difícil! Então para nós, como pais que levam seus filhos para outras culturas, este assunto é bem importante!

As mudanças e transições trazem grandes desafios para qualquer um, e para uma criança ou adolescente, que às vezes não tem o vocabulário, ou não se sente capaz de expressar o que está sentindo é um momento muito complicado e difícil. Com um simples voo, cada lugar importante, cada bicho de estimação e cada amigo chegado, desaparecem ao fechar a porta do avião. Sons e cheiros e tudo que soa familiar somem juntos.

E infelizmente quando o Filho de Terceira Cultura[i] não tem oportunidade de falar sobre as perdas que vêm com uma transição e de processar o que está acontecendo, ele simplesmente enterra a dor e mais pra frente, após uma vida de transições e perdas o FTC apresenta problemas emocionais por causa deste luto não resolvido.

Então, como podemos ajudá-los?

Primeiramente no preparo antes da transição

Podemos ajudá-los muito gastando tempo com atividades e conversas antes do dia da mudança. Com uns meses de antecedência inicia-se um programa de atividades familiares, uma noite por semana na qual irão conversar sobre a mudança que há de vir. Conversa-se sobre a importância deles dentro da família e sobre a razão da mudança. Mostra a eles que mudanças são normais, são parte da vida, mas que essa será maior, e vocês irão com eles ajudando e acompanhando-os. Use livrinhos infantis para ajudar a criança a entender o assunto melhor[ii].

Abra espaço para os seus filhos expressarem os seus sentimentos usando emojis para explorar o que estão sentindo. As emoções são parte da vida humana, mas podem ser incontroláveis e nos abater. Como pais precisamos escutar, validar e aceitar as emoções dos filhos. Uma apostila de atividades preparado para ajudar os pais a ouvirem seus filhos de 6 a 10 anos é disponível pelo Philhos. [iii]

Mudanças e transições com crianças e adolescentes

No preparo do FTC também é importante fazer algumas atividades antes da transição

Estes são explicadas num anagrama chamado RADAR (adaptado do anagrama RAFT de David C. Pollock e Ruth E. Van Reken no livro Third Culture Kids).

R – Reconciliar

Reconciliação significa reconhecer ruptura, tensão, e perda de amizade. Quando enfrentamos uma mudança de um lugar para outro, é fácil pensar: “Eu não vou ver essas pessoas novamente, então por que se preocupar em tentar resolver nossas diferenças?” Quando uma pessoa se recusa a resolver seus conflitos interpessoais, a dor e a amargura fica e ela não vai consegue seguir em frente. Vai carregar consigo a bagagem mental de problemas não resolvidos e isso pode interferir com o início de novos amizades.

A reconciliação inclui tanto a necessidade de perdoar quanto a necessidade de ser perdoado. É muito importante ter certeza de que tudo foi feito para reconciliar qualquer relacionamento rompido antes de sair, para adultos tanto com para crianças e adolescentes.

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A – Agradecer

De reconhecer que cada pessoa em um relacionamento é importante. Ajude os FTCs a fazerem coisas para dizer aos professores favoritos como eles os apreciaram, dizer a seus amigos o quão importante sua amizade foi, dar uma nota de agradecimento aos vizinhos por sua gentileza, falar aos seus avós que eles os amam e que eles não vão esquecer deles. Parte do encerramento é reconhecer as bênçãos – tanto para se alegrar com elas quanto para lamentar adequadamente sua perda.

D – Despedir-se

Dizer adeus a pessoas, lugares, animais de estimação e posses de maneiras culturalmente apropriadas é importante se não quisermos que os FTCs se arrependam mais tarde. Eles precisam agendar um horário para essas despedidas durante os últimos dias e semanas. Para visitar o parque favorito, para ter uma última noite de pijamas com as amigas, de jogar Pokémon mais uma vez com amigos. De abraçar os avós e os tios. Fazer deste momento um verdadeiro adeus é muito importante.

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A – Avaliar

Avaliar as expectativas sobre o futuro, de olhar na internet para descobrir tudo que possam sobre o lugar para onde vão, para visitar a rua, o parque, a nova escola e o shopping através do Google mapas! Uma avaliação realista sobre seu destino – dos pontos positivos e negativos que eles podem encontrar quando chegarem lá.

E uma avaliação realista sobre suas estruturas externas de apoio e seus recursos internos para lidar com os problemas que poderão ter. Para ver quem poderá ajudá-los a se ajustar. Não há como evitar o caos e a confusão do processo de transição. Os FTCs precisam entender que é normal e que passará se eles aguentarem o tempo suficiente.

mother and child at home with laptop and map looking for place to travel 5

R – Reconhecer

Reconhecer a dor da perda. Despedidas doem, mas a dor precisa ser reconhecida, validada e não reprimida. Nós como pais, precisamos mostrar compreensão e consolo para os FTCs durante todo o processo de transição.

RADAR é um dispositivo que permite detectar objetos distantes, inferir suas distâncias e calcular o tempo da sua chegada. O RADAR de transição para o FTC pode ajudar ele a ver os desafios que possam acontecer, se preparar para enfrentá-los e assim ter uma passagem mais tranquila.

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Porém, mesmo tendo esse preparo a transição pode ser bem turbulenta emocionalmente. Como a Marion Knell descreveu no seu livro “Families on the Move” a transição é igual atravessar uma ponte. No meio da ponte o FTC pode se sentir muito inseguro, abalado e incapaz até de ir em frente. O rio debaixo da ponte é uma torrente de emoções e há medo de que ele possa cair. Neste momento é muito importante que a família mantenha aqueles ritmos de vida familiar conhecidas. Hora de levantar e de dormir, momento de sentar e comer juntos, de culto em família e aquela noite de brincar, se divertir e rir juntos.

Uma boa ajuda é ter alguém para andar juntos com o FTC, um amigo/mentor que possa mostrar como fazer as coisas neste novo lugar, onde encontrar o que querem, onde jogar bola, onde ir para tomar sorvete. Este amigo ou mentor também pode começar a explicar sobre a nova cultura, o que fazer e o que não fazer. Como agir em certas situações socias e etc.    

A mudança de lugar pode levar somente umas 12 horas, um voo de um país para outro, mas a transição pode levar meses, até um ano ou mais. Vamos preparar os nossos FTCs para este momento de desafios numa maneira adequada. Vamos caminhar com eles durante os meses seguintes sempre prontos para ouvir, aceitar e providenciar um lugar seguro para eles expressarem as suas necessidades e sentimentos. Lembre-se de dar apoio e um lugar de pertencimento com os rituais familiares que eles reconhecem.

Que Deus te ajude nas suas transições, como Ele tem me ajudado nas minhas.

Jan Greenwood. Mãe de três FTCs e avó de 4 netos FTCs. Membro da equipe Philhos, CIM Brasil. Membro de Latin Link e coordenadora de Cuidado de famílias de Latin Link.   


[i] Filho de Terceira Cultura (FTC) é uma pessoa que passou uma parte significante de seus anos de desenvolvimento fora da cultura nativa de seus pais. Ainda que elementos de cada cultura possam ser assimilados pela experiência de vida do FTC, seu senso de pertencimento está no relacionamento com outras pessoas que tenham uma experiência parecida com a sua. David Pollock desenvolvedor do perfil dos FTCs, coautor do livro Filhos de Terceira Cultura: a experiência de crescer entre mundos

[ii] GRANDES MUDANÇAS (casa/escola/cidade) https://www.youtube.com/watch?v=n2k6j2YsKS8 

[iii] Philhos, departamento de CIM Brasil-Cuidado Integral do Obreiro AMTB. E-mail: cimbrasil@amtb.org.br

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