O Choque Cultural e seus Impactos

Choque Cultural

Uma confissão de quem já experimentou o choque cultural

Trabalhadores multiculturais já sentiram ou vão sentir o choque cultural que acompanha a mudança e o processo de adapatação à um novo campo de trabalho, mesmo que não idetifique ou não perceba exatamente o que é. No meu caso, eu chamo esse período de “choque global.” Mas vamos por parte.

O choque cultural acontece quando saímos de nossa cultura e aterrissamos numa outra fase de vida na nova cultura. Começa com tudo lindo, tipo casal apaixonado. Mas para que essa nova relação não acabe em divorcio é importante estar consciente de que esse choque tem algumas fases. Passa da fase apaixonada de borboletas no estômago para o desencanto da vida real, quando percebemos o quanto essas pessoas e esse lugar são diferentes de tudo o que vivemos.

Este período onde percebemos que nem todas as coisas são tão legais e algumas são bem chatas, o estresse se intensifica. Contudo, com perseverança e boa vontade chegaremos na etapa da resolução, quando começamos a encontrar soluções para as dificuldades e desafios percebidos na fase anterior, e a partir daí passamos a integrar a nova maneira de ser, ao novo estilo de vida.

Ao chegarmos na última fase, a adaptação, estaremos superando o processo de choque, e finalmente conseguimos operar nas várias áreas da vida com mais segurança. Vale lembrar que as fases não são lineares, e que é possível estar em fases diferentes nas diferentes áreas da vida.

Na minha exeriência, gosto de dizer que tenho enfrentado um “choque global” porque me sinto perdida não apenas com a nova cultura, mas também com desconstrução tão ampla que tenho vivido, que parece que nem passei pela primeira fase de estar apaixonada com o novo campo.

Mudei de pais, “deixei”de ser a esposa do pastor para o servir multicultural, mudei o trabalho que faço e como faço, agora vivo mais longe dos familiares em um momento delicado para eles , e com isso veio muita coisa a tona e muitas incertezas. A minha sensação é de terremoto, algo que veio destruindo e bagunçando tudo, tirando tudo do lugar. Estou nesse processo, e acho que vai perdurar um tempo mais. Seguramente mais do que gostaria.

Por me perceber em meio ao choque cultural nesse momento, no meio desse caos completo gostaria de oferecer algumas perspectivas sobre essa fase que tem sido minhas companheiras para lutar e minha pregação para mim mesma. Diariamente.

“A transformação de quem éramos para quem seremos é um processo dolorido e de morte. Mas é nessa dor, fraqueza, fragilidade e incômodo, que percebemos mais claramente os milagres de Deus nas nossas vidas .”

A mudança faz parte do plano de Deus. Vemos nas histórias dos santos do AT e NT que Deus chama pessoas para irem de um lado para outro. Como foi o caso de Abraão que Deus mandou sair de Ur dos caldeus para ir para Canaã, porque lá, na desconstrução da sua identidade, e construção de uma nova, baseada em fé, ele se tornaria nosso pai da fé. Vemos Deus chamando Moisés quando ele estava na terra dos midianitas para ir para o Egito resgatar o povo e dar mais um rolê de volta para Canaã (sem contar os 40 anos rodando no deserto) e nesse processo complexo e demorado, nós ganhamos o pentateuco.

Ainda poderíamos falar de José que foi traficado como escravo e foi para o Egito para se tornar o salvador da sua família (sim, daqueles que o venderam) e assim preservar seu povo de quem viria o Messias. E ainda há tantos outros do AT, muita gente que não temos tempo de tratar aqui.

Mais perto de nós, no NT temos Paulo que faz muitas viagens para expandir o Reino de Deus junto com Barnabé e outros. Também temos o nosso chamado a ir para às nações fazer discípulos. Ainda bem que nessa história toda já sabemos que no final do filme o mocinho vence e que vamos para a Casa que Jesus está preparando para nós e não vamos precisar mudar mais de lá (ufa!!). Mas na atual fase do “ainda não” de Deus, vemos de gênesis a apocalipse que esse movimento geográfico é algo sempre presente nos planos de Deus. Até mesmo a mudança interna, temos que ser renovados de glória em glória numa transformação de mente como está escrito na carta aos romanos.

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Abrace a sua dor e dê um beijo nela. A transformação de quem éramos para quem seremos é um processo dolorido e de morte. Mas é nessa dor, fraqueza, fragilidade e incômodo, que percebemos mais claramente os milagres de Deus nas nossas vidas e a presença dEle nos dando forças e aperfeiçoando aquela obra que Ele mesmo começou em nós, é ai onde a graça nos basta.

Seja gentil com você mesma e cuide-se. As vezes o caos e o desânimo são tão grande que não sentimos vontade e não vemos sentido em fazer certas coisas básicas que sempre fizeram parte de nós. Mesmo sem vontade, tome um banho gostoso, tire o pijama quando acordar, faça a unha, passe lápis no olho, penteie o cabelo e se possível faça uma caminhada. Um simples exercício produz e libera substâncias e hormônios que aumentam a sensação de bem-estar físico. Fazer essas coisas que em outro momento você não teria dificuldade, mesmo que nesse momento seja difícil, vai trazer alguma ordem e bem-estar para essa situação tão disruptiva.

Confia. Assim que, se você está sendo transformada, está tudo de acordo com os planos de Deus. Não saber o que vai sair no final nos aterroriza, mas confia no Deus que te chamou a essa mudança, ele sabe conduzir esse processo para que no final uma lagarta dê lugar a uma borboleta. Ainda que o lugar de transformação seja um lugar de dor. Jesus mesmo já disse que não seria fácil. Confia, Ele não fala o que queremos ouvir, mas o que precisamos ouvir.

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O tempo. Não, o tempo não cura tudo. Mas nós servimos ao Deus que é o SENHOR do tempo e tem uma hora certa para tudo debaixo do céu. Até mesmo para o luto da morte de quem fomos e para o processo de mudança que não sabemos exatamente quanto tempo demorará. Deus vai de alguma maneira soberana usar nossa dor e não vai desperdiçar nossas lágrimas, Ele está fazendo tudo isso como expressão da Sua bondade. 

Esse processo de transformação de quem éramos para quem seremos no novo campo de trabalho é parte dos planos de Deus para nossa vida. A mudança ainda que muito incômoda é necessária para nosso crescimento. E por causa de quem nos chamou que é fiel, que se encarrega de nos conduzir e não desperdiçar nosso sofrimento, podemos nos alegrar e descansar em meio ao caos. Pela fé somente.

 Arite Julia

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Arite Julia

Casada com Creuse Santos, mãe do Noah e Manuela. Duas mãos, muitas ideias, um caos no seu infinito particular. Ama as Escrituras, a educação, as amigas, tricô, crochê, Patchwork e férias.

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