Confissões de uma mulher multicultural

Temos tanto em comum! Obedecemos, sem reversas, a um chamado desafiador. Um chamado divino, um chamado irresistível nos impulsionou a buscar e a seguir novos rumos.

Seguimos deixando para trás o que sentíamos nos pertencer; nossa família, nossos amigos, nossa comunidade, nossa rua, nossos vizinhos, nosso cantinho.

Aprendemos a desapegar, nada fácil! Desapegar de casa, de coisas, de roupas até que vai, mas desapegar de gente, dói demais!

O tempo acalenta a dor e nos ensina a expandir o coração para que o novo encontre  seu lugar. E nessa dinâmica , a novidade é permanente!

Nova família, nova casa, novos amigos, novos vizinhos, nova forma de pensar, de se vestir, de agir, de falar. Uma aglutinação cultural casa corpo, alma e espírito de uma forma que nos torna multi. Multiculturais!

Contudo, toda essa transformação, muitas vezes traz certa confusão e já não nos sentimos parte nem daqui, nem de lá. Já não temos colo pra chorar. Já não temos quem possa nos escutar.

E, nessa hora, é preciso confessar! Em meio ao caos interno e externo, muitas vezes, a vontade é de gritar, mas um desabafo em confissão cura rápido a confusão.

Confessamos que dói, que por muitas vezes choramos escondidas no banheiro, que a mala é pequena, a viagem é cansativa, que aprender a língua requer tempo e esforço, que nem sempre admiramos a cultura onde estamos inseridas, que sentimos saudades do café, enquanto café brasileiro, mas muito mais de uma companhia amiga pra um café da tarde.

Confessamos que nossos filhos não entendem nossas piadas, que algumas vezes eles nos corrigem, pois falam a língua melhor do que nós, que eles vivem conflitos peculiares de quem cresce em outra cultura, que temos dificuldades para encontrar boas escolas a preços acessíveis, que nos sentimos inseguras durante as férias em nossa pátria, que a hora de voltar é sempre difícil, pois o Pai nos dá família em todos os lugares.

E em cada confissão nos libertamos, somos curadas, nos encontramos, nos alinhamos, sentimos o cuidado do Senhor através do outro; em uma mensagem, uma conversa, um encontro, mesmo virtual.

Percebemos que nossa identidade é peculiar; somos mulheres fortes e ao mesmo tempo frágeis, decididas mesmo que em alguns momentos duvidosas, determinadas mesmo que já não haja forças.

Não somente mulheres, somos multiculturais. Vivemos os desafios diários de mergulhos profundos em culturas adversas. Um desafio intenso de abraçar o diferente desde a forma mais abstrata da cosmovisão até a forma mais concreta da roupa que veste, da forma que fala, do jeito que come. 

E nessa dinâmica da vida, entre fortalezas e fraquezas percebemos que são as confissões as portas que abrem a alma para uma troca, um desabafo, uma dica, uma lágrima.

Dessa forma, Confissões de Mulheres Multiculturais nasce em meio a buscas e encontros. 

E é aqui que nos encontramos para juntas buscarmos soluções, novas formas e novas visões. E nesse caminhar nos sentimos amadas,  nos sentimos cuidadas, nos sentimos pertencentes. É nesse acolhimento que nos sentimos mais mulheres!

Mulheres multiculturais!

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