Criando Filhos em um Contexto Transcultural

two boys in the form of an aircraft pilot and traveler playing in her room

Dilemas e desafios na criação de filhos globais

Comecei minha jornada transcultural há 30 anos, deixando o Reino Unido com meu marido e três filhos pequenos. Confesso que naquele momento eu não tinha absolutamente nenhuma ideia do que significava estar criando filhos em uma situação transcultural.

Bem, para ser honesta, assisti a uma palestra dada por Marion Knell em nossa escola de treinamento missiológica, mas tenho vagas lembranças de estar um pouco preocupada sobre como as crianças se adaptariam e se encaixariam na realidade da cultura brasileira. Naquela época, eu não tinha nenhum material de leitura sobre o assunto.

Minha principal preocupação era ajudá-los a aprender o português e manter o inglês. E assim, três dias depois de chegarmos ao país, nós “jogamos” nossos filhos em uma escola local (de língua portuguesa) sem absolutamente nenhum preparo no idioma. E sim, eles foram resilientes, superaram isso e aprenderam o português. Porém, não foi fácil e acho que foi um pouco traumático. Mas, felizmente, eles cresceram e se tornaram adultos bem ajustados com fortes valores, fé e visão.

17 anos depois, quando servia no colégio de treinamento missionário, Centro Evangélico de Missões (CEM) no Brasil, que a diretora, na época, Antonia Van der Meer (ou Tonica como a maioria das pessoas a conhecem) me perguntou se eu poderia ajudar no cuidado dos FMs (filhos multiculturais) dentro do CEM.

happy cheerful european kids boy and girl in warm clothes sitting on a suitcase and holding passports with air tickets and boarding pass at the international airport family airplane travel concept

E assim, comecei minha caminhada de descobertas, tentando entender mais sobre a vida desses FMs no atravessar de várias culturas e no lidar com um estilo de vida de constante mudanças e seus desafios . Naquele período, iniciei minha busca para melhor compreender e me capacitar para ajudá-los e para orientar seus pais no desafio de criar filhos transculturalmente!

Quando nos tornamos pais, a primeira coisa que descobrimos é que os filhos não vêm com um ‘manual de instrução’ e que cada filho é diferente, com temperamento e personalidade diferente! E, como pais, começamos a escrever nosso manual de paternidade com base em nossas próprias experiências anteriores. Então, se nossa experiência não foi uma criação transcultural, estamos em terra virgem quando mergulhamos em uma cultura totalmente nova!

Aqueles de vocês que cresceram em uma situação transcultural ou com pais de culturas diferentes, certamente têm uma grande vantagem! O viver em uma nova cultura traz consigo o enfrentamento de decisões complexas. Nossos filhos, por outro lado, podem, devido a sua interação diária com a cultura anfitriã por meio da escola e das brincadeiras, obter uma percepção mais rápida do que nós (pais), e podem muitas vezes se tornar os nossos professores!

criando filhos 1

Ao entrar em uma nova cultura, precisamos fazer ajustes à situação transcultural. Enquanto aprendemos sobre valores desconhecidos, precisamos simultaneamente ensinar nossos filhos sobre estes valores. Às vezes, podemos enfrentar choques com relação as nossas próprias crenças e valores, expectativas de comportamentos sociais, padrões educacionais e sentir o desafio de diferentes atitudes e padrões sociais.

Lembro-me de ter ficado “chocada” no Brasil ao ver crianças pequenas em um culto noturno, pois no Reino Unido as crianças são geralmente colocadas na cama por volta das 19h ou 19h30 e não seriam levadas a um evento que começasse no horário de dormir! Também fiquei surpresa que em uma festa de aniversário de criança, estavam presentes irmãos mais velhos, pais e até avós dos convidados. No Reino Unido, apenas os amigos da criança deveriam ir a uma festa de aniversário.

Como pais, ao enfrentarmos novas diferenças culturais, precisamos nos lembrar de que os nossos filhos estão observando as nossas reações e ações a cada momento. O grande desafio é o de enxergar o “bom, o verdadeiro e o amável” em cada aspecto do lugar onde chegamos para viver. Nossas atitudes positivas vão ajudar a criança a lidar de forma saudável com o diferente. Irão auxiliar no avaliar das diferenças, aprendendo a avaliar as situações com bons olhos.

young family enjoying trips

Vivendo longe do nosso país de origem, estamos sem os suportes familiares e culturais e isso é muito difícil. Precisamos procurar outras pessoas ao redor, pedir ajuda para entender e avaliar os valores e normas da cultura nova. Podem ser colegas, vizinhos, professores e pessoas da igreja. É bom incluir aquelas que podem nos dar uma perspectiva local. E buscar oportunidades de encontro com pais e famílias com dinâmicas semelhantes.

Como pais, precisamos refletir e nos questionar sobre o nosso objetivo de longo prazo – queremos preservar os “nossos valores culturais” a todo custo? Ou aproveitar as oportunidades para aprender sobre uma outra cultura e novas perspectivas e assim se integrar?

Por isso, enquanto procuramos ajudar nossos filhos em uma situação transcultural, há algumas questões a serem consideradas:

  • Quais os valores de sua cultura que você está de acordo e deseja vivê-los? O quanto você quer transmitir para seus filhos em relação a cultura do seu passaporte?
  •  Você considera como necessidade, o preparar seus filhos para retornar ao seu país origem ?
  • O quanto você e sua família devem mergulhar na cultura anfitriã?
  • Você encoraja seu filho a convidar crianças locais para sua casa e/ou brincar na casa do amigo local?
  • O quanto você expõe seus filhos à cultura local (escola local, transporte, escola dominical, esportes, visita a lugares como mercado, visita à população local, roupas etc.)?
  • Que aspectos positivos da cultura local você pode apontar para seus filhos?
  • Você explora a cultural local junto à seus filhos? Visitando locais interessantes, jogos locais, aspectos da vida local, buscando conhecer as tradições?
  • Existe uma família local que sua família poderia ‘adotar’ como seus familiares?

O que fazemos quando a cultura local se choca com a sua? Neste caso, pense no que é mais importante: É essencial para você manter todos os aspectos possíveis quanto à sua própria cultura? Por exemplo, a mudança no horário de dormir das crianças de 19h para 21h, seria para você um grande problema? Peça conselhos a outros colegas experientes. Questione sobre o que você faz em sua cultura que poderia ser visto como ruim ou como mau testemunho. Faça todo o esforço para conhecer e se integrar à cultura local, a menos que esteja lidando com situações verdadeiramente antibíblicas.

criando filhos em um contexto transcultural 1

Quando aspectos da cultura local entram em conflito com a Bíblia, explique muito claramente tanto para seus filhos quanto para a população local a razão porque você escolheu criar seus filhos de outra forma naquele aspecto. Tenha muito cuidado, pense e ore. Evite críticas à cultura anfitriã na frente de seus filhos. E, acima de tudo, respeite a cultura local, bem como sua cultura de origem.

Se pudermos ajudar nossos filhos a amar e apreciar a diversidade cultural, as diferenças, a parender a dieferencias as coisas boas e das coisas limitantes de cada cultura, estaremos proporcionando aos nossos filhos o desenvolvimento de habilidades incríveis de discernimento, empatia e aceitação sem preconceitos.

Janet Greenwood

Familia em direcao ao campo

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(Parte deste artigo foi escrito de anotações tomadas no seminário do Euro TCK 2007 liderado por Kezia Schoonveld. Agradeço a ela por ter me ajudado a pensar sobre a importância deste assunto) 

Você pode ler mais sobre Filhos de Terceira Cultura em nosso blog

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