Equilíbrio entre Ser e Fazer

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Trabalho, pausas e autocuidado no serviço multicultural

Todos nós desempenhamos papéis — sociais, pessoais e profissionais — e eles são essenciais em nossa vida, pois definem quem somos, o que fazemos, com quem nos relacionamos, bem como a nossa maneira de pensar, o que sentimos e como usamos o nosso tempo. Porém, a gestão desses diferentes papéis pode ser bastante desafiadora.

Podemos, por exemplo, interromper momentos em família para atender a uma chamada de trabalho, um e-mail que deve ser respondido, assim como podemos ter que tratar de assuntos pessoais durante o horário de trabalho. Situações como essas podem causar ansiedade e conflitos, tanto ligados à vida pessoal quanto profissional.

A linha é tênue entre os diferentes papéis e é possível que cheguemos ao ponto de não termos tempo para nós mesmos.

Essa espécie de dança entre papéis pode gerar sentimentos de culpa, insegurança e instabilidade, já que, por vezes, o indivíduo está trabalhando e sente que deveria passar mais tempo com os filhos, por exemplo, ou, ao contrário, está com a família e sente que deveria estar trabalhando — causando, assim, a dificuldade de estar plenamente presente em tudo aquilo que está fazendo.

Essa é uma realidade que todos os adultos que trabalham enfrentam, e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional torna-se um desafio, seja para solteiros ou casados, com filhos ou não — e um fator fundamental para o nosso bem-estar e qualidade de vida.

Porém, o equilíbrio varia de pessoa para pessoa, e é importante compreender a realidade de cada um.

“Viver entre chamados e responsabilidades exige mais do que organização — exige discernimento, pausa e graça.”

São vários os fatores que influenciam esse equilíbrio, como, por exemplo, dificuldades socioeconômicas, o acesso às plataformas online a qualquer momento e sem filtros, a indefinição dos horários de trabalho e as exigências laborais ou ministeriais que estão sempre presentes no dia a dia do indivíduo.

O fato é que vivemos numa cultura de resultados, e a pressão do meio (agências, lideranças, organizações) pode caminhar nessa direção.

Segundo a Ordem dos Psicólogos de Portugal, uma em cada três pessoas trabalha mais de 40 horas semanais, e quase metade considera insuficiente o tempo que tem disponível para se dedicar a si mesmas, à família e aos amigos, ou ainda realizar atividades de lazer. O que, segundo a pesquisa, pode gerar conflitos tanto no contexto pessoal quanto profissional, com consequências como, por exemplo: problemas de saúde física e psicológica, menor bem-estar emocional e menor satisfação com a vida — gerando também impacto negativo nas relações parentais e conjugais, no autocuidado e na produtividade.

Como é possível, então, encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, já que há inúmeros fatores a considerar e não há receitas prontas para integrar os diferentes papéis?

O equilíbrio não tem a ver com compartimentar ou atribuir o mesmo número de horas ou importância para cada um dos papéis, mas sim em integrá-los de forma adaptativa e funcional.

O ideal é que empregadores, agências, organizações facilitem políticas internas para a promoção desse equilíbrio. Todavia, isso não anula o papel fundamental do indivíduo na busca por esse equilíbrio como parte do autocuidado.

Jesus: O nosso exemplo

Jesus é o exemplo supremo desse equilíbrio. O Senhor conjugava o trabalho intenso, multidões, milagres com o descanso, a oração e a solitude, enquanto espalhava as boas novas e ensinava os seus discípulos. No momento de maior tensão do seu ministério, Ele escolheu lavar os pés dos discípulos, partir o pão com eles e chamá-los de amigos — para, em seguida, derramar-se no Getsêmani e na cruz por cada um de nós.

Com esse exemplo a nos nortear, é importante considerar e assumir responsabilidades pelo nosso equilíbrio pessoal, familiar, ministerial e profissional — procurando entender o que estamos sacrificando, o que estamos priorizando, e aquilo com que estamos ou não satisfeitos, para então optarmos por alternativas que possam nos ajudar nesse equilíbrio.

A OPP nos dá a dica do 555, em que nos questionamos sobre a importância que este episódio, este momento, esta tarefa, esta pausa terá daqui a 5 dias, 5 meses e 5 anos.

Buscar nossos pares, mentores e amigos que possam nos apoiar nessa busca por equilíbrio.
Incluir momentos de pausa, descanso e desligamento da atenção constante que a vida ministerial e profissional exige.
Ser hábil para dizer sim e não, estabelecendo limites com base nas nossas necessidades pessoais e profissionais.
Ser realista, prestar atenção à nossa saúde física, psicológica, às relações sociais e ao propósito que damos à nossa vida — e pedir ajuda de um profissional quando o desequilíbrio puder afetar a saúde mental.

O Salmo 46 é perfeito para ilustrar esse equilíbrio. O salmista descreve Deus como sendo seu refúgio e fortaleza. O cenário é de guerra, e o lugar de refúgio é onde os soldados são protegidos e se escondem do inimigo. É nesse ambiente que o Senhor vem lutar por eles — e é nesse contexto de autoridade que o Senhor diz: “Aquietem-se e saibam que eu sou Deus.”

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Arlete Castro

Luso-brasileira. Casada com Luiz Castro e mãe de três filhos. É Pedagoga e Psicóloca Clinica e do Aconselhamento. Serve na região de Sintra, onde coordena o Projeto PitStop, dedicado ao Cuidado de Pastores, Lideres e Trabalhadores Globais que atua através de temporadas terapêuticas, descanso e refrigério. Na Sepal coordena a área do Cuidado Integral. É escritora com cinco títulos publicados e coordena também o blog Mulheres com História.

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