Auxiliando os filhos multiculturais na construção do pertencimento
Desde a infância somos conduzidos, por nosso íntimo, a um mundo de descobertas. É como se tivéssemos um professor interior que nos impulsiona a experimentar, tentar, descobrir. Quando essas descobertas se passam no mundo de fora, tudo fica mais evidente; entender o espaço e os limites, mas quando se passa do lado de dentro parece difícil se encontrar, se localizar no sentir, no ser, no pertencer.
Para os FTCs (Filhos de Terceira Cultura)*, que são crianças e adolescentes que crescem longe da pátria dos seus pais, tudo fica muito mais desafiador. Quantos dos nossos filhos não se veem únicos, seja na aparência, na língua, na forma de experienciar o mundo?!
Nessa dinâmica, são muitos os desafios de crescer em uma cultura distinta. E o sentir das emoções é forte, intenso, confuso. O quesito Pertencimento é algo que precisa ser constantemente trabalhado em conversas e interações familiares. É muito importante conhecer as próprias raizes.
Sabe uma árvore genealógica? É fácil desenhar e no papel visualizar um aglutinar de linhas que se unem e em congruência chegam até você. Para uma criança ou adolescente que cresceu longe dos familiares durante toda a vida, desenhar uma árvore genealógica é um desafio; conhecer o nome dos parentes com os quais não tem contato é complicado. Contudo, é um exercício que vale à pena ser feito em família! Conhecer as raizes, as histórias da família, dos romances, dos desafios, das superações.
Para o FTC encontrar as suas próprias raízes não necessariamente acontece naquele modelo tradicional de árvore genealógica.. É como se ele fosse a parte da árvore que se descolou e parece ser uma raiz solta, não fixa, uma pontinha que está ligada ao todo, mas que não se encontra na vivência e na experiência coletiva da família.
É eu sei! É complicado mesmo! Ter o passaporte do país dos pais e só ter lembranças de férias naquele lugar, que é chamado de seu. Não conhecer, não experienciar a vida real e se sentir pertencente a um país específico não é algo evidente.
Um ponto de apoio
Além de todos os desafios, a maioria dos FTCs mora em lugares em que a cada dia, eles se sentem diferentes, seja por questão racial, linguística, cultural, ou por todas juntas de uma só vez.
São desafios que doem, que se materializam em lágrimas que buscam aliviar a dor do não pertencer. Meu filho, com sete anos a época, experienciou uma situação em que ele sentiu que o povo não gostava dele, ele se viu tão diferente, ele se sentiu tão sozinho.
E foi nesse contexto que iniciou o FMKids, um ministério que proporciona um encontro semanal on-line para Filhos Multiculturais de 5-12 anos.
Um dos temas que usamos para trabalhar Pertencimento com os filhos Multiculturais é Uma parte de mim é Brasil. Com esse tema, viajamos pelo nosso país conhecendo a culinária, geografia, História e a cultura brasileira. Aprendemos o Hino do Brasil e trocamos muitas experiências.
A cada encontro, sentimos a alegria da descoberta, do pertencer ao Brasil, de ter um lugar tão lindo e tão rico para se chamar de seu. Eles sempre se lembram de uma pequena parte do Brasil (para onde vão de férias) e ficam maravilhados quando percebem que nosso país é muito, muito grande! Há tanta riqueza na descoberta!
Naquela sala virtual eles se descobrem, conhecem outros que são iguais a eles, mesmo sendo tão diferentes e estando em lugares tão longínquos. E é justamente a congruência de tantas diferenças que faz deles uma tribo, e nessa descoberta eles se fortalecem sabendo que há outros que também estão em algum lugar do mundo crescendo em meio aos desafios.
Contudo, nessa caminhada eles também descobrem que há algo muito maior que o país e as diferenças que os unem. Cada um deles tem um lar definitivo, uma pátria celestial, o Amor de um Pai bondoso que cuida e que os acolhe em suas fragilidades. Essa é a cereja do bolo! Quando nossos filhos imergem num relacionamento com Deus, eles são supridos nessa descoberta da própria identidade. E podem crescer mais leves sabendo que mesmo que não se encaixem nos modelos comuns de pertencimento aqui, há um lugar eterno reservado nos Braços do nosso Pai de Amor, pois é Nele que cada ser humano se encontra, se descobre, se desfaz, se reconstrói e se redescobre embalado em amor e acolhimento.
6 dicas de como ajudar nossos filhos a se sentirem pertencentes
- Ensine quem eles são de acordo com a Palavra;
- Seja intencional em conecta-los com sua família;
- Conecte-os com outras crianças ou adolescentes que vivem o mesmo contexto que eles;
- Incentive-os a participarem dos encontros semanais do FMKIDS;
- Imprima fotos e monte a árvore genealógica em família; contem histórias, riam juntos, cultivem memórias!
- Pais e cuidadores, façam parte do CMM e aprenda mais como apoiar seus filhos de forma intencional.
*FTC é uma pessoa que, durante a infância ou adolescência, passou um período significativo de tempo em uma cultura diferente daquela dos seus pais ou da sua cultura de origem.
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EVENTO
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O evento Cuidando dos Filhos Multiculturais, nos dias 28 a 31 de outubro, reúne especialistas experientes para capacitar pais, cuidadores e educadores. Serão abordadas questões fundamentais para promover reflexões e ações que favoreçam o cuidado preventivo e curativo, evitando traumas desnecessários e o abandono precoce do serviço multicultural, enquanto fortalecem a formação espiritual e emocional saudável do TCK/FTC – Third Culture Kid/ Filho de Terceira Cultura.
