3 Amigos para a Reentrada dos Filhos Multiculturais

Contando com o Nacional, o Espelho e o Experimentado no Enfrentamento da Reentrada

Você vai precisar de 3 amigos para te ajudar a enfrentar a como um FTC*. Voltar para o seu país de passaporte depois de crescer no exterior não é nada simples. Se você é um FTC ou Filho Multicultural você já sabe que esse retorno vem cheio de desafios únicos. Talvez você esteja começando a faculdade agora, ou talvez esteja pisando no seu “país de origem” pela primeira vez em anos. Seja qual for o caso, pode parecer que todo mundo recebeu um manual de instruções… menos você.

As gírias, o humor, as expectativas sociais — tanta coisa parece estranha num lugar que deveria ser familiar. Você pode rir de piadas que ninguém entende ou ficar boiando quando usam expressões idiomáticas que não fazem sentido pra você. A reentrada, muitas vezes chamado de choque cultural reverso, pode ser solitário. Mas aqui vai uma boa notícia: você não precisa passar por isso sozinho.

Sobreviver (e até florescer!) na reentrada não é questão de decorar todas as regras sociais. O mais importante é caminhar com as pessoas certas. Aqui estão três tipos de amigos que podem te ajudar a passar por essa transição:

1. O Nacional

Quem é:
Um amigo que cresceu no Brasil (ou no seu país de passaporte) e conhece bem a cultura local.

Por que você precisa dele:
O nacional funciona como um guia cultural. Ele te ajuda a entender gírias, comportamentos sociais e até te avisa quando você está prestes a dar a “pagar um mico”. Ele é tipo um tradutor da vida cotidiana nesse novo contexto.

Como isso pode parecer na prática:
Imagina que você falou algo numa aula e a sala inteira ficou em silêncio. Ou talvez você não tenha entendido uma ironia no seu grupo de amigos. Um Local pode te puxar de canto e dizer: “Olha, quando você disse aquilo, o pessoal provavelmente entendeu assim…” Esse tipo de feedback pode te salvar de passar vergonha e acelerar seu aprendizado.

Onde encontrar:
Olhe ao redor no seu dormitório, nas suas aulas ou nos grupos cristãos da faculdade. Pode ser até seu colega de quarto ou alguém de um clube universitário. Compartilhe um pouco da sua história para que entendam por que você faz perguntas que outros não fazem. Dê liberdade para que sejam sinceros com você, e mantenha a humildade para aceitar esse retorno.

2. O Espelho

Quem é:
Alguém que também está passando por essa transição agora.

Por que você precisa dele:
Espelhos são aqueles que “entendem na pele” o que você está vivendo. Eles também estão lidando com o choque cultural, crise de identidade e a pergunta: “O que é considerado normal aqui, afinal?” Eles talvez não tenham todas as respostas, mas compartilham das mesmas dúvidas.

Como isso pode parecer na prática:
O Espelho é aquele amigo que você manda mensagem depois de uma situação estranha: “Foi só impressão minha ou aquilo foi muito esquisito?” Vocês riem juntos, às vezes choram juntos, e o mais importante: lembram um ao outro que “a gente não tá ficando maluco e não tá sozinho”.

Onde encontrar:
Outro FTC ou FM no seu dormitório, em grupos cristãos como a Aliança Bíblica Universitária ou rede Philhos e Mu Kappa. Se não achar alguém por perto, mantenha contato com um amigo que também está passando pela reentrada em outro lugar. Só cuidado pra não ficar preso demais no passado — incentivem um ao outro a criar raízes e crescer onde estão agora.

3. O Experimentado

Quem é:
Um FTC ou FM que viveu a reentrada alguns anos antes de você.

Por que você precisa dele:
Esse amigo é esperança pura. Ele sobreviveu ao que você está vivendo agora e pode te oferecer encorajamento, perspectiva e conselhos baseados na própria experiência. Ele te lembra que a dor, o cansaço e o desconforto não vão durar pra sempre. Em algum momento, ele também foi cada um desses 3 amigos — e também precisou deles.

Como isso pode parecer na prática:
Quando você estiver pensando em desistir e voltar pro seu “lar de verdade”, ele pode dizer: “Eu já passei por isso, e melhora. Aqui está o que me ajudou…” As histórias dele te ancoram na verdade de que o crescimento e a cura levam tempo. E te impedem de abandonar tudo e pegar o próximo voo de volta.

Onde encontrar:
Procure veteranos em grupos como o Mu Kappa e Philhos, um mentor da organização a qual faz parte seus pais, ou até um irmão (ou irmão de amigo) mais velho. O idela é que o °Experimentado° o Já Passei esteja pelo menos três anos à sua frente nesse processo de transição.

Considerações Finais

Voltar para um lugar onde você “deveria” se sentir em casa — mas que, na prática, é quase um país novo — é desafiador. Mas essa jornada fica muito mais leve quando você tem as pessoas certas ao seu lado.

Procure um Nacional, um Espelho e um Experimentado. Se não encontrar os três de cara, comece com um. Com o tempo, você vai ter esses amigos — e muitos outros. A mensagem é simples: não enfrente isso sozinho.

Tem gente pronta pra te apoiar nessa fase da vida. Eles querem caminhar com você. Deixe que se aproximem. Aprenda com a sabedoria deles, ria das situações esquisitas e lembre-se: você não é o único tentando entender tudo isso.

Você já chegou até aqui. Continue. Com a comunidade certa, você pode não apenas sobreviver a reentrada — mas crescer e florescer nele.

*FTC – Filho de Terceira Cultura é uma pessoa que, durante a infância ou adolescência, passou um período significativo de tempo em uma cultura diferente daquela dos seus pais ou da sua cultura de origem.

Este artigo foi publicado origianalmente em inglês nos site da Interaction Internacional

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EVENTO

O evento Cuidando dos Filhos Multiculturais, nos dias 28 a 31 de outubro, reúne especialistas experientes para capacitar pais, cuidadores e educadores. Serão abordadas questões fundamentais para promover reflexões e ações que favoreçam o cuidado preventivo e curativo, evitando traumas desnecessários e o abandono precoce do serviço multicultural, enquanto fortalecem a formação espiritual e emocional saudável do TCK/FTC – Third Culture Kid/ Filho de Terceira Cultura.

Bret Taylor

Presidente da Interaction International

Criador do Modelo TCK Adaptável

Coautor de Setting the Standard: Standards of Excellence for Third Culture Kid Care

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