Travessia para o Novo: Transições de Quem Vive Entre Culturas

Fé em movimento em meio às transições da vida multicultural

“Então o Senhor disse a Abrão: Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei.” Gênesis 12.1

Há um mistério no novo. Algo que nos atrai e assusta ao mesmo tempo. Viver transições nos custa de todo modo. Já saí da minha terra e da minha parentela há mais de uma década, mas continuo fazendo travessias em minha história em obediência ao Deus que me chamou para sua obra. 

Há 11 anos sirvo no interior de uma ilha africana, e agora, me preparo para mudar para a capital do arquipélago para oferecer uma estrutura educacional melhor para os meus filhos. Não é uma nova nação, mas ainda assim é um novo mundo pra mim e isso significa abrir mão da rotina que me acolheu por tanto tempo. É uma renúncia dentro da renúncia. Estou me despedindo de uma realidade que já se tornou minha, de uma casa onde construí memórias, de amigos locais, de paisagens que se tornaram parte de mim, e da praia de areia preta, pertinho de casa, onde eu dizia que precisava frequentar mais (e estava certa)! E mesmo sabendo que posso voltar para visitas, o novo me exige desprendimento e coragem.

A espiritualidade da travessia

As mudanças de campo, ou simples mudanças de casa não são tão simples para mulheres multiculturais. A experiência não torna as coisas fáceis, não importa quantas vezes fizemos e desfizemos as malas, ou quantos territórios internacionais já pisamos… O novo mexe com a gente. Ele cutuca zonas que já estavam pacificadas, traz perguntas que julgávamos resolvidas, nos faz carregar de novo a mala emocional da adaptação. Há dores nesse processo: o desapego, o medo, a saudade antecipada. Mas há também beleza: novas pessoas, novas descobertas, melhores condições de vida para nossos filhos, novas oportunidades de servir. O novo é desconfortável, mas também é fértil. E para atravessá-lo, é preciso fé.

Foi essa fé que moveu Abraão, quando Deus o chamou para deixar tudo o que conhecia. Ele não recebeu um mapa, apenas uma promessa: “Vá para a terra que eu lhe mostrarei.” Não há como viver os propósitos de Deus sem transitar por caminhos desconhecidos. Transições são um convite divino à confiança. E quanto mais confiamos, mais crescemos.

Abraão não recebeu explicações. Ele recebeu uma direção. E muitas vezes é assim que Deus age conosco. Em vez de detalhes, Ele nos dá um chamado. Em vez de certezas humanas, Ele nos oferece Sua fidelidade. E é exatamente aí que nossa fé é aperfeiçoada. Entre um lugar e outro, descobrimos quem somos. Descobrimos quem Deus é. E entendemos que a estabilidade não está no endereço, mas na Presença.

A jornada do novo não é apenas geográfica, é espiritual. Toda mudança externa revela processos internos. Deixar a terra conhecida é também deixar certos apegos, formas de pensar, jeitos de agir, posturas antigas. Mudanças nos transformam. Elas nos fazem crescer em dependência, em fé, em flexibilidade, em amor. E nos lembram que o que nos sustenta não é o que construímos, mas Aquele que nos chamou.

É tentador buscar controlar o processo — planejar cada detalhe, minimizar as perdas, prever os passos. Mas Deus, muitas vezes, nos chama a simplesmente ir. A fé não é um mapa, é uma lanterna: ilumina o próximo passo. E quando a gente dá esse passo, percebe que o chão está firme — porque Ele é firme.

Se você está em transição, como eu estou, talvez seu coração esteja pesado e ansioso. Mas lembre-se: não estamos à deriva. Somos guiadas por um Deus que vê o invisível, que escreve histórias com propósitos eternos, e que trabalha em nós enquanto nos move. Cada travessia tem um sentido. E, com Ele, nenhuma mudança é em vão.

Você pode até não entender tudo agora, mas o Pai já conhece o final da estrada. Ele está presente no caminho, cuidando de cada detalhe. Seja uma mudança de casa, de ministério, de cidade ou de estação da alma — Ele vai à frente. E quando a gente se entrega à confiança, percebe que o novo não é um fim, mas um começo.

Podemos orar assim:

Senhor,Tu és o Deus que me guia entre um lugar e outro. Tu conheces minhas dores, meus medos e minhas alegrias nesse processo de mudança. Ajuda-me a confiar em Ti quando tudo parecer incerto. Que eu não resista ao novo por medo, mas que eu o abrace com fé, sabendo que Tu estás comigo em cada detalhe. Ensina-me a renunciar com paz e a caminhar com esperança. Dá-me coragem para sair da terra conhecida e fidelidade para seguir até a terra que Tu me mostrarás. Que eu aprenda a andar com os olhos fixos em Ti. Em nome de Jesus, amém.

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Jade Simões

Brasileira, natural do Ceará, é Obreira multicultural, escritora e professora. Apaixonada pela feminilidade, tem se dedicado ao ensino e discipulado de moças e mulheres. É casada com Paulo Diego, mãe do Benjamin e da Abigail. A família está há 9 anos na África ocidental.

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